O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno neurobiológico que se inicia no período de desenvolvimento da criança causando prejuízos no desenvolvimento e no funcionamento pessoal, social e acadêmico.
Pessoas com TDAH têm dificuldades na capacidade de planejamento gerando dificuldades em organizar a rotina, tarefas e materiais, apresentam também falta de estratégias para a resolução de problemas pois não conseguem muitas vezes seguir uma lógica ou um pensamento sequencial, tem dificuldades em manter comportamento direcionado a metas, mudando muito de atividades, iniciando tarefas e não finalizando, não controlam bem o tempo, podem apresentar baixa tolerância à frustração, desvelam dificuldades na grafomotricidade (desenho e caligrafia), muitas vezes agem “sem pensar” e buscam recompensas imediatas.
E como trabalhar com essas crianças dentro do contexto escolar?
Pensando nas intervenções com esses alunos, o primeiro passo é compreender quais são os comportamentos-alvo, ou seja, comportamentos problemáticos específicos que esperamos que melhorem. Para identificar esses comportamentos e compreender os fatores que o mantém, é preciso conhecer o seu aluno. É importante ter conhecimento acerca das situações que englobam as dificuldades do seu aluno, portanto verificar:
- Se a criança com TDAH que faz uso de medicação;
- Se necessita de poucas intervenções ou muitas intervenções;
- Se consegue dar conta das atividades escolares ou possui lacunas de conteúdo escolar;
- Se ela precisa de intervenção psicopedagógica, psicológica, fonoaudiológica, etc;
- Se ela está inserida dentro da turma e têm amizades;
- Se ela tem uma boa rede de apoio, etc.
Assim a criança poderá ser avaliada de forma individualizada e poderão ser propostas intervenções mais específicas para as demandas que necessita trabalhar. Cada criança é única e tem dificuldades e habilidades específicas, portanto o olhar individualizado é essencial.
É sempre importante promover encorajamento e motivação verbais para que esse aluno se engaje nos trabalhos e tarefas, além disso o aluno com TDAH deve ter uma pessoa de referência na escola para lhe oferecer apoio e acolhida em momentos críticos relacionados aos seus comportamentos e ou emoções. Oferecer também um monitoramento de seus comportamentos é um recurso importante para o aluno com TDAH, pois permite que se desenvolva uma percepção do seu próprio desempenho, potencial e capacidade e possa avançar e ser motivado em busca a sua própria superação.
Como adequar o ambiente da sala de aula para melhorar o desempenho da criança com TDAH?
Para promover uma aprendizagem mais significativa a organização do ambiente de trabalho é essencial quando se pensa em crianças e adolescentes com TDAH. O ambiente externo bem estruturado auxilia a criança a conseguir uma estruturação interna, algumas medidas que podem ser adotadas:
- Sala de aula localizada em local que possui menos barulho externo;
- Sala possuir poucos estímulos visuais;
- A criança deve sentar próximo do professor;
- Não é indicado que sentem junto a portas, janelas e nas últimas fileiras da sala de aula;
- Elaborar um quadro com rotinas e comportamentos desejáveis em sala de aula;
- Somente o material necessário deverá ficar em cima da carteira;
- Cadernos podem ser “encapados” com papéis de cores diferentes, isso auxilia na organização e memorização;
- Condensar todo o material impresso no mesmo lugar minimizando a eventual perda do material;
- Utilizar diariamente a agenda como canal de comunicação entre o professor e os pais;
- Pedir ao aluno para anotar os deveres e recados, bem como certificar-se de que ele o fez;
- Incentivar o uso de calendários, post-it, blocos de anotações, lembretes sonoros do celular;
- Não passar muitas tarefas para serem realizadas em curto prazo;
- Etiquetar, sublinhar e colorir as partes mais importantes de uma tarefa, texto ou prova;
- Fale sobre o tempo e estimule o uso do relógio de pulso digital.
Outra postura que pode auxiliar bastante é posicionar o aluno perto de alunos que possam colaborar. Os alunos colaboradores podem ser de grande valia na inclusão de alunos com TDAH e para isso o professor deve ter em vista as necessidades do aluno a ser incluído, suas habilidades, dificuldades e grau de autonomia. Entre as possíveis ações do aluno colaborador destacam-se o auxílio na motivação escolar, interação e inclusão no grupo social.
A rotina e organização são elementos fundamentais para o desenvolvimento dos alunos portadores de TDAH, portanto a organização externa irá refletir diretamente em uma maior organização interna.
Como o professor pode agir na sala de aula para aumentar o nível de atenção da criança?
O professor deve tornar o processo de aprendizado o mais concreto e visual possível. É recomendado que as instruções sejam curtas e objetivas, desta forma deve-se evitar longas apresentações/explicações e focar no aprendizado multissensorial, que contempla diferentes estilos de aprendizagem (visual, auditiva e cinestésica). Optar por dar aulas com materiais audiovisuais, computadores, vídeos e outros materiais diferenciados como revistas, jornais, livros etc. A diversidade de materiais pedagógicos aumenta consideravelmente o interesse do aluno nas aulas e, portanto, melhora a atenção sustentada.
É importante saber que algumas crianças terão dificuldades em copiar toda a matéria do quadro, uma opção seria oferecer a matéria já impressa para a criança conseguir acompanhar a aula e a explicação. Para auxiliar na memorização a repetição é um forte aliado na busca pelo melhor desempenho do aluno, portanto estimule o desenvolvimento de técnicas que auxiliam nesse processo: use listas, rimas, músicas, etc.
Na medida do possível, o professor deve se posicionar próximo ao aluno enquanto apresenta a matéria e oferecer assistência individual a este aluno, checando seu entendimento a cada passo da explicação, assegurando de que o aluno escutou e entendeu as explicações e instruções. Antes de iniciar uma nova matéria utilize alguns minutos para recordar a matéria anterior, desta forma se criam conexão entre os assuntos favorecendo a atenção e fixação das informações.
Para os alunos que apresentam dificuldades de cálculo e resolução de problemas de matemática podemos reeducar os movimentos de contagem, seriação, reagrupamento e correspondência utilizando fichas, ábaco e papel quadriculado. Durante as atividades de matemática reduzir o número de problemas por página e permitir o uso de material concreto para manipulação (moedas, botões, fichas). Algumas estratégias que auxiliam nesse processo é estimular o aluno a ler o problema em voz alta, buscar palavras chave no enunciado que indiquem a operação que será realizada, anotar informações importantes, escrever a operação matemática e só depois escrever a resposta.
Pensando nos alunos que apresentam dificuldades na coordenação visomotora e em processos de leitura e escrita, solicitar que o aluno siga as linhas com o dedo enquanto lê, instrua-o a escrever com letras maiores e deixar espaço entre as informações escritas e assegure que o aluno esteja na página correta antes de iniciar as explicações. Outro aspecto que auxilia muito é treinar conceitos espaciais (acima, embaixo, sob, sobre, direita, esquerda, etc.) e ensinar o aluno a espaçar as palavras utilizando seu dedo indicador entre elas. No livro, apostila, caderno ou provas, os outros exercícios que não os executados pela criança devem ser encobertos com uma folha para que o aluno se ocupe com um exercício de cada vez. É preciso ter em vista que cada aluno aprende no seu tempo e que as estratégias devem respeitar a individualidade e especificidade de cada um.
Como auxiliar alunos TDAH que apresentam problemas comportamentais?
Para envolver esse aluno dentro do contexto de sala de aula e fazer com que colabore de maneira mais efetiva é interessante designar responsabilidades e torná-lo um ajudante de sala, esta providência pode ser muito útil para atenção, autoestima e inibição comportamental.
O aluno pode fazer um “contrato” com o professor e os pais se comprometendo em reduzir os comportamentos inapropriados e ao corresponder às regras do `’contrato” receberá recompensas imediatas pelos comportamentos adequados e sucessos alcançáveis. O importante é que essas recompensas não sejam distantes, ocorram em curto prazo e estas recompensas podem ser: ganhar adesivos, ser o primeiro da fila, receber elogios, escolher o brinquedo da caixa lúdica, levar recado para os pais com elogios.
Alunos com hiperatividade necessitam de alguma atividade motora em determinados intervalos de tempo, então permitir que o aluno se levante em alguns momentos é necessário e este procedimento é extremamente útil para diminuir a atividade motora.
Estas crianças precisam de suporte, encorajamento, parceria e adaptações e a atitude positiva do professor é fator decisivo para a melhora do aprendizado.
E as avaliações? Que estratégias podemos adotar para avaliar de maneira justa alunos com TDAH?
Nas avaliações e tarefas de casa é preciso priorizar o que é importante para o aprendizado daquele aluno e para isso o currículo deverá priorizar a qualidade e não a quantidade de conteúdos.
É recomendado que ao invés de poucas avaliações cobrando um grande conteúdo de informações, seja realizado maior número de avaliações com menor conteúdo de informações, a prova também deverá ser bem organizada visualmente.
A prova escrita deve ser objetiva e com textos curtos, podendo-se fazer uso de testes de múltipla escolha. Quando achar necessário, o professor pode ler as perguntas para o aluno e aplicar avaliação oral ao invés de escrita.
Na medida do possível permitir que o aluno faça suas avaliações em lugar com menos estímulos que possam comprometer sua atenção. Se o aluno apresenta dificuldade de interpretação de textos, peça para que leia as perguntas de interpretação antes de iniciar a leitura do texto e não avalie o aluno pela sua caligrafia.
Faça uso de tempo mínimo evitando que o aluno abandone a atividade antes de tentar finalizá-la e de tempo extra para a execução das atividades caso o aluno precisar, além disso, permita que pesquisas e trabalhos de campo possam ser instrumentos de avaliação, visto que muitas vezes, as crianças com TDAH conseguem um bom rendimento nessas atividades.
É crucial compreender que não há uma fórmula única para o manejo de alunos com TDAH em sala de aula, o segredo para o sucesso é definir metas específicas e acessíveis e reforçar cada pequena realização, até que novos hábitos sejam formados.
Para que esse processo aconteça, um ambiente estruturado é fundamental para guiar e dar apoio ao aluno de maneira positiva, por isso, reinventem-se, desafiem-se, saiam do comum, pois a educação é sempre uma busca e nunca um fim em si mesma!
Sobre a autora:
Lívia Trimer
Lívia Trimer é psicóloga clínica e atua junto ao público infanto-juvenil na área de psicoterapia, e de avaliação e intervenção da aprendizagem.
Pós-graduada em neurociências e educação pelo Child Behavior Institute of Miami;
Pós-graduanda em Terapia Cognitivo Comportamental na Infância e Adolescência;
Especializada em Autismo pelo Centro de Terapia Cognitiva Veda;
Certificações na área de neuropsicologia, Desenvolvimento e Aprendizagem.