recomposição de aprendizagem

A comparação mais próxima entre reforço e recomposição de aprendizagem é enxugar a varanda por causa de uma chuva e reconstruir o telhado depois de um furacão. Não podemos esquecer de que passamos, com a pandemia de Covid-19, por uma calamidade pública que nos deixou com uma catástrofe educacional. Esperamos que isso nunca mais aconteça, mas aconteceu, e temos de responder à altura do prejuízo.

Todo professor está acostumado a fazer trabalhos de reforço para uma turma ou para estudantes específicos. Por exemplo, entre duas classes de 4º ano, uma domina totalmente a operação de divisão e outra não, ou seja, mais de metade da turma não consegue fazer essas contas.

Nesse caso, o professor vai pensar em uma abordagem diferente da que usou para ensinar divisão e vai retomar o tema com toda a classe! Na outra turma, no entanto, somente alguns alunos ainda não dominaram a operação; nesse caso ele vai conversar com eles, identificar as dificuldades e lhes dar mais orientação para que aprendam e acompanhem o restante da classe.

A necessidade imediata da recomposição de aprendizagem

Durante a pandemia, por mais que as escolas e professores tenham se mobilizado para dar continuidade ao conteúdo do ano letivo, o acesso ao ensino remoto foi extremamente desigual, principalmente por conta da falta de conectividade e de acesso às ferramentas digitais. Assim, não podemos falar em “recuperação” de conteúdo se não temos certeza de que esse conteúdo pedagógico chegou da mesma maneira para todos os estudantes e suas famílias.

Na verdade, temos classes e mesmo localidades em que os estudantes ficaram dois anos sem nenhum estudo. Além da perda do hábito de estudar, de lidar com os colegas, de ficar na sala, de fazer atividades dirigidas, esses alunos esqueceram, por falta de reforço, o que aprenderam antes da pandemia. A retomada é, portanto, difícil para eles e, mais ainda, para o professor, sendo necessário a recomposição de aprendizagem.

Se o docente simplesmente iniciar o ano pelo conteúdo dos livros didáticos, a maioria dos alunos não vai entender a nova matéria, e ele será forçado a retomar, a todo momento, os conteúdos perdidos nos anos anteriores. Dessa maneira, sua missão estará fadada ao fracasso. Para problemas incomuns, são necessárias soluções incomuns.

recomposição de aprendizagem

Como aplicar a recomposição de aprendizagem?

O primeiro passo para a recomposição de aprendizagem é uma avaliação diagnóstica dos estudantes. Mas avaliando qual conteúdo, considerando que foram perdidos dois anos de aula presencial? Qual será o tamanho dessa prova diagnóstica? É nesse momento que a BNCC nos ajuda.

Muitos conteúdos são apresentados aos estudantes em espiral, ou seja, da primeira vez ele é apresentado de forma mais simples, e, à medida que vão passando os anos letivos, vão sendo aprofundados. Ao identificar quais habilidades foram perdidas no ano anterior e as que serão ensinadas no ano corrente, o professor pode isolar as habilidades que os alunos teriam que ter para iniciar o ano e verificar sua proficiência nestas.

É a partir desse resultado que o planejamento da recomposição de aprendizagem será feito. No entanto, esse planejamento deve ser muito bem alinhado com coordenação e direção, pois pode significar deixar alguns conteúdos de fora das aulas. São conteúdos informativos que seus alunos podem encontrar facilmente em uma ferramenta de busca e exercícios que o aluno pode fazer em casa.

Mesmo entendendo os impactos da pandemia, os pais podem achar estranho que “o livro não foi usado inteiro”, “a professora não dá todos os exercícios” ou coisa assim, e é por isso que deve haver um alinhamento com a escola, para que o professor esteja apoiado em suas ações e os pais e responsáveis sejam informados das adaptações necessárias para a recomposição da aprendizagem.

Assim, com uma introdução adequada para os temas a serem tratados durante o ano corrente e informação adequada aos pais — assim como um acolhimento adequado aos alunos —, com a recomposição de aprendizagem será possível desenvolver habilidades que abranjam quase a totalidade do esperado para o ano corrente e os anos perdidos.

 

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