Em dados de 2019, o Brasil tem 11 milhões de analfabetos com idade de 15 anos ou mais. São milhões de pessoas com dificuldades para exercer profissões que exijam mais do que capacidade braçal. No entanto, mesmo entre os que passaram pela alfabetização existem os chamados “analfabetos funcionais”, ou seja, pessoas que, embora conheçam as letras, são incapazes de compreender textos simples.
Para o desenvolvimento do país, é essencial que a população possa ser capaz de avançar nos estudos e tornar-se mão-de-obra mais especializada, ao passo que para os cidadãos esse crescimento profissional significa melhores condições de vida, reduzindo problemas como o crime e a desigualdade social.
Por tudo isso, a alfabetização e o letramento são uma preocupação central para professores, gestores escolares e gestores públicos.
Alfabetização e letramento
Qual é a diferença entre alfabetização e letramento?
Alfabetização significa conhecer as letras e saber codificar (escrever) e decodificar (ler) o texto escrito. A partir daí, o indivíduo é capaz de avançar no aprendizado do idioma e de outros conteúdos. Já o letramento é a capacidade de usar a leitura e a escrita nas atividades sociais. Isso envolve a capacidade de interpretar corretamente um texto, ao ler, e de se comunicar com clareza, ao escrever.
Sendo a compreensão de textos fundamental para praticamente qualquer profissão regulamentada, temos um problema sério, uma vez que grande parte dos brasileiros alfabetizados não consegue entender textos escritos. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro, 50% dos entrevistados disseram não ler livros por não conseguir compreender o conteúdo. Imagine que o mesmo vale para um e-mail, uma comunicação geral, um manual de instruções.
É, portanto, essencial, para que o indivíduo se insira na sociedade em que vive e em sua cultura, que o processo de alfabetização e letramento nos anos iniciais seja bem-sucedido.
Alfabetização e letramento nos anos iniciais
Em primeiro lugar, devemos lembrar que os dois processos, alfabetização e letramento, são importantes, portanto um não pode excluir o outro. Ambos os processos devem ocorrer em paralelo.
Em segundo lugar, sabemos que cada estudante aprende de uma maneira; isso exige do professor conhecimentos de psicologia, fonologia, linguística e sociolinguística (as diferentes formas de comunicação na sociedade).
Por fim, temos de lembrar que cada estudante tem seu ritmo no aprendizado, e este precisa ser respeitado no processo de alfabetização e letramento. Aprender um sistema de representação de sons é complexo e abstrato, e é um processo que exige estímulos diversos e uma boa dose de paciência.
Quando a alfabetização e o letramento acontecem?
O processo de alfabetização e letramento se dá em ciclos que envolvem a educação infantil, quando as letras e fonemas são introduzidos; o ciclo básico, que ocorre do 1º ao 3º anos, quando esses conhecimentos prévios são sistematizados; o ciclo de consolidação, do 4º ao 5º anos, em que os conhecimentos são aplicados e se tornam naturais, e o ciclo de ampliação, do 6º ao 9º anos.
É importante lembrar que no primeiro ano é comum que a escola receba alunos de várias procedências, não só os que fizeram a educação infantil na própria instituição; isso significa que haverá uma disparidade muito grande no conhecimento dos estudantes, que o professor deverá harmonizar durante o ano. Assim, o professor não pode assumir que os estudantes já saibam: é preciso avaliá-los e ajustar as estratégias de acordo com os resultados.
Boas práticas para alfabetizar e letrar
1 – Uma prática útil para o 1º ano é ajudar os alunos a identificar as sílabas, contando os sons e lembrando que esses sons são feitos por sílabas e estas são compostas por conjuntos de uma a quatro letras. A partir da identificação das sílabas, fica mais fácil para o aluno identificar as vogais e consoantes que as compõem.
2 – Ao começar a ler e a escrever, as crianças já têm a fala bem desenvolvida, e na fala a divisão entre as palavras não é clara, ao passo que ao escrever elas precisam deixar espaços entre as palavras. Para ajudá-las, leia as frases fazendo pausas a cada palavra e apontando cada palavra que está sendo lida. Isso as ajudará a individualizar as palavras.
3 – O entendimento de sílabas de mais de duas letras pode ser desafiador para as crianças. Uma forma de ajudar é falar das letras de forma lúdica. Por exemplo, ao mostrar a diferença entre ‘pe’ e ‘pre’, pode-se dizer que o ‘r’ está ajudando as outras letras ou até que se ‘intrometeu” entre elas.
4 – A escrita de textos é a maneira de os estudantes adquirirem consciência fonológica e colocar em prática seu aprendizado. Dentro da capacidade dos alunos, a cada ano, é importante que todas as atividades sejam iniciados pela redação de um texto: a princípio, frases simples; depois, textos mais longos, à medida que avançam.