Uma das maiores dificuldades para professores e escolas é a inclusão de crianças atípicas, especialmente as que estão no espectro do autismo, em salas de aula regulares. O desafio é ir além da simples inserção do aluno em sala e fazer com que ele se envolva nas atividades com os colegas e tenha uma experiência de qualidade.
Para começar, o ponto fundamental é compreender o que é autismo. Nesse sentido, podemos dizer que o transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, o que significa que é uma característica inata do indivíduo e não deve ser considerado uma doença; ele é na verdade, uma característica daquele indivíduo que faz com que ele se relacione com o ambiente e as pessoas de uma maneira própria.
O TEA é caracterizado por prejuízos em três importantes áreas do desenvolvimento humano: habilidades socioemocionais, atenção compartilhada e linguagem. Esses prejuízos surgem em níveis diferentes, sendo cada indivíduo TEA totalmente diferente do outro. Essas características são com frequência acompanhadas pelos chamados “hiperfocos”, um interesse excepcional por alguma atividade; por uma ou mais comorbidades, como o TDAH, e os indivíduos podem também apresentar altas habilidades em alguma área.
Justamente por se manifestar em diferentes níveis de intensidade, o autismo não é considerado uma condição estanque, mas cada indivíduo é posicionado em algum ponto de um “espectro” de autismo, mesmo que, para facilitar a comunicação entre os profissionais, se classifiquem os indivíduos em três níveis de “suporte”, ou seja, o quanto aquele indivíduo precisa de apoio para desenvolver suas habilidades.
Embora o diagnóstico de autismo seja demorado e exija a contribuição de uma equipe multidisciplinar, muitas vezes cabe aos pais e professores “adivinhar” que a criança pode ter algum transtorno de aprendizagem ou de neurodesenvolvimento. Isso é possível quando se conhecem os marcos do desenvolvimento infantil. Cada fase do desenvolvimento de uma criança segue uma sequência e há uma idade esperada para cada uma delas.
Vale lembrar que, pelos estudos do psicólogo Jean Piaget, as crianças não se desenvolvem de maneira igual, mas haveria de fato “períodos sensíveis” para todas em que é mais provável que elas desenvolvam determinadas habilidades cognitivas. Os marcos do desenvolvimento ajudam pais, médicos e professores a perceber quando o desenvolvimento da criança não está acompanhado o esperado. Embora o acompanhamento do desenvolvimento normal seja feito pelo pediatra, nas consultas de rotina, pais e professores têm maior convivência com a criança e, observando os marcos, podem desconfiar de que possa haver algum problema.
Não se deve, no entanto, apressar as conclusões. Além do TEA, há outros transtornos que podem causar atrasos em diversos dos momentos de desenvolvimento da criança, como o transtorno de desenvolvimento da linguagem (TDL) e transtornos de aprendizagem como a dislexia, a disgrafia e a discalculia. É por meio da exclusão de outras razões e da análise de outros aspectos de desenvolvimento que se pode chegar a uma conclusão. Em qualquer caso, no entanto, o diagnóstico precoce vai fazer toda a diferença nas perspectivas de desenvolvimento da criança.
Dessa forma, o autismo, como os demais transtornos do neurodesenvolvimento, é fonte de sofrimento e angústia para as famílias e, principalmente, para a pessoa afetada. Muitas vezes despreparadas e sem informação adequada, as famílias passam por um processo de “luto” ao descobrirem que suas crianças são autistas. Há casos em que a aceitação nunca chega, e muitas crianças TEA ainda crescem isoladas de outras crianças e da sociedade, sem oportunidades para viver dignamente e desenvolver seu potencial. O peso do preconceito ainda é grande e a sociedade muitas vezes prefere ocultar o diferente, em vez de acolhê-lo.
É cada vez mais crucial que as pessoas sejam informadas sobre o autismo, suas características e o potencial das crianças TEA. Essa conscientização pode e deve começar com as crianças, com a convivência das crianças neurotípicas com as neuroatípicas nas escolas e em outros locais; o resultado é crescimento para todos.
Com esse webinar, o Sistema Etapa Público espera trazer uma contribuição para que a inclusão seja eficaz em todo ambiente educacional.
Referências Bibliograficas
Linhas de Cuidado
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed.
Autismo e Realidade
Cartilhas sobre o TEA
Lagarta Vira Pupa
Marcos do desenvolvimento infantil SBNI
PNEE 2020
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva
PROGENE
DSM-V Changes for Autism Spectrum Disorder (ASD)
Sobre a autora
Milena Steger
Milena Steger é co-fundadora da Merit Consultoria e pedagoga pós-graduada em psicopedagogia e gestão de projetos escolares. Especialista em projetos para Educação Infantil e Ensino Fundamental, desenvolve e ministra cursos e formações para escolas e educadores.