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1. O que são metodologias ativas?

Estamos preocupados com as exigências para a educação no futuro, no entanto, esquecemos de olhar a nossa volta e reconhecer que não estamos atendendo às necessidades dos estudantes de hoje. Exceto por uma pequena parcela que busca carreira acadêmica, o objetivo dos estudantes é a empregabilidade. Será que estamos garantindo ou mesmo ajudando nesse sentido, com metodologias ativas de aprendizagem que de fato entreguem o esperado?

O mundo do trabalho vem mudando há décadas, exigindo profissionais que dominem, além dos conhecimentos pertinentes a suas áreas de atuação, habilidades socioemocionais. É necessário dominar os 4Cs da educação básica, que se referem a pensamento crítico, colaboração, comunicação e criatividade, que são as condições para se tornar um profissional que aprende sempre e realiza.

Mas o modelo tradicional de ensino não forma profissionais com essas características. As salas de aula com carteiras enfileiradas em que os alunos são impedidos de se comunicar e precisam ficar 50 minutos ouvindo o professor não são eficazes nem para transmitir informações, que dirá construir conhecimentos e desenvolver habilidades e atitudes que tenham valor de mercado.

O irônico é que há um século atrás Vygotsky já falava de novas abordagens para o ensino em que o estudante pudesse ser protagonista de seu aprendizado e o professor fosse um mediador desse processo. Essa ideia combinava com as proposições de Piaget, principalmente de que o aprendizado é construído pelo aluno. Passando por Ausubel, responsável pela teoria da aprendizagem significativa, que ensinava que o conhecimento prévio do estudante é a chave para a construção de novos conhecimentos, chegamos ao humanismo de Paulo Freire, que acreditava na aprendizagem centrada no aluno, tendo o professor como facilitador.

Daí se chega ao questionamento:

O professor que se considera “o gênio no proscênio” tende a ser ignorado em seu palco, isso quando não é desacreditado por alunos conectados às últimas informações pela Internet. O professor que admite não saber tudo, mas que domina a arte de mediar a construção do conhecimento, é então o “guia na coxia” que mostra o caminho para que seus estudantes brilhem.

É dentro dessa filosofia que se encaixam as metodologias ativas, técnicas que buscam libertar estudantes e professores da rotina e da repetição com resultados limitados ao curto prazo e colocá-los em um círculo virtuoso de construção de conhecimentos sólidos e permanentes.

2. Aprofundamento das metodologias ativas.

Uma ilustração muito importante de como (e quanto) as pessoas aprendem é a chamada Pirâmide Glasser. Embora haja críticas quanto ao rigor científico de William Glasser ao desenvolvê-la, professores do mundo todo vêm confirmando empiricamente essa escala:

As quatro atividades na ponta da pirâmide são as comumente relacionadas ao aprendizado na escola, mas podemos ver que sua eficácia não passa de 50%. Começamos a ter resultados melhores de retenção de conhecimento quando os estudantes se engajam em atividades ativas de aprendizagem.

Há muitas metodologias ativas para uma educação inovadora já testadas, como estudos de casos, investigação científica, aprendizagem por pares, etc, mas duas das mais eficazes e facilmente aplicáveis em todas as idades e disciplinas são a sala de aula invertida e a aprendizagem baseada em projetos.

A sala de aula invertida, ou flipped classroom, consiste em se inverter os locais em que os estudantes obtêm e aplicam o conhecimento. Tradicionalmente, o professor considera seu papel “ensinar” aos alunos, apresentando e explicando a teoria em classe, para que os estudantes pratiquem em casa.

Esse método faz com que grande parte dos estudantes falhem na aplicação em casa, seja terem se distraído em sala, ou mesmo por “achar que entenderam”, mas não… Na sala de aula invertida, os alunos estudam em casa a teoria antes da aula. Na classe, o professor verifica se houve entendimento do conteúdo, explicando o que for necessário e orienta os estudantes em atividades de aplicação desse conteúdo, como discussões, projetos, resolução de problemas, etc.

Como esses exercícios são geralmente feitos em grupo, os colegas têm mais possibilidades de relacionar o conteúdo a suas vidas e interesses, o que torna a compreensão mais fácil e leva os conceitos para a memória permanente.

A aprendizagem baseada em projetos vai muito além dos tradicionais trabalhos em grupo, pois não pede aos estudantes que pesquisem e relatem informações. A busca de informações acontece, mas como consequência da elaboração do projeto. Desafiados com um problema que requer habilidades que ainda não possuem, os estudantes buscam conhecimentos que serão imediatamente aplicados, o que gera uma memória de longo prazo, além de desenvolver as habilidades socioemocionais.

Idealmente, o projeto deve ser algo que interesse aos estudantes e com o qual possa ser conseguido um aprendizado multidisciplinar. Competições são bem-vindas e trazem motivação adicional, mas a emoção de apresentar um produto bem-sucedido já funciona para animar os alunos.

Exemplos de projetos são a construção de um foguete, a simulação de uma estação espacial, a criação de um produto, a montagem de um negócio, etc. São atividades ideais para se desenvolver integração empresa-escola, que podem gerar financiamentos, mas, em geral, os projetos são desenvolvidos com recursos existentes na escola e materiais reciclados ou de custo baixo.

Utilizando essas estratégias, que são o que chamamos de metodologias ativas de ensino, os professores são capazes de identificar os conhecimentos e habilidades essenciais em suas disciplinas e garantir que haja um aproveitamento total nesses itens, preparando os estudantes para todos os desafios que os esperam na escola e no trabalho.

3. Metodologias ativas: ferramentas e avaliação.

A trágica pandemia de Covid de 2020/21 teve pelo menos um efeito colateral positivo: a aproximação dos professores dos recursos tecnológicos. Forçados a usar tecnologias de informação e comunicação (TICs) para manter o contato com seus alunos e lecionar à distância, professores que até então não usavam computadores passaram a transitar com naturalidade por ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), chats e repositórios de conteúdo, além de dominar a gravação de vídeos e transmissões ao vivo.

Com a volta das aulas presenciais, essa familiaridade é um trunfo para os professores que não querem “voltar ao normal”, mas sim desenvolver um trabalho mais eficaz com seus alunos. Isso lhes permite não só oferecer aos estudantes alternativas de trabalho síncrono, assíncrono e misto, mas também adotar metodologias ativas com uso de tecnologias digitais e aferir as necessidades e os resultados dos pupilos em tempo real.

Com essas mudanças, torna-se claro que a maneira de avaliar também deve ser diferente. Embora os anos finais da educação básica sejam avaliados pelas ‘grandes provas’, o Enem e os vestibulares, e haja a preocupação das escolas e dos professores em “treinar” os estudantes para elas, é certo que um estudante que foi bem formado e que desenvolveu as habilidades e competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) terá muito mais possibilidade de se preparar para as provas que aqueles que apenas memorizaram informações que foram logo esquecidas.

Uma vez que as novas metodologias de ensino miram o sucesso do estudante no trabalho e na vida, faz sentido que diversos tipos de competências sejam avaliados. Para isso, as questões de múltipla escolha podem vir acompanhadas de trabalhos como blogues, experimentos, portfólios, wikis, filmes, jogos, histórias em quadrinhos, podcasts, entre outros. São muitas as maneiras de entender se um estudante teve aproveitamento em um curso, usando avaliações que permitam entender cada aluno em sua individualidade.

Sobre o autor:
Roger Trimer

Roger Trimer é co-fundador da Merit Consultoria. Pós graduado pela ESPM, possui mais de 20 anos de experiência na área educacional. Foi diretor de conteúdo na Pearson Education, implementando materiais didáticos que atendem centenas de escolas, como uma linha de disciplinas digitais para o ensino superior. Estudioso das metodologias ativas de ensino e especialista em desenvolvimento de conteúdo para educação, desenvolve e ministra cursos sobre esses temas.

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