O retorno às aulas presenciais em 2022 nas escolas públicas e particulares de educação básica de todo o país deixou inquestionável para a comunidade escolar o grande desafio de recuperar o conteúdo pedagógico não assimilado pelos estudantes. Isso ficou ainda mais evidente ao pensamos nas crianças da educação básica (entre 5 e 9 anos) que, de acordo com diversas pesquisas realizadas no pós-pandemia, foram as mais prejudicadas e as que mais se ausentaram das salas de aula.
Para a maioria das crianças e adolescentes foram dois anos em que o ensino foi apenas remoto, o que foi extremamente complicado para aqueles que não tinham acesso à tecnologia mesmo antes da pandemia. Isso se soma ao fato de que muitas redes ficaram meses com as aulas presenciais interrompidas e depois foram retomando aos poucos com o modelo on-line ou ensino híbrido, o que impactou bastante na qualidade e no tempo para garantir a aprendizagem dos estudantes naquele ano letivo.
Pesquisas do mundo todo mostram que, por menor que tenha sido o tempo do distanciamento das aulas presenciais, ou ainda que as aulas tenham acontecido no modelo híbrido, não ocorreu apenas o impacto da implementação do currículo referencial, mas também o impacto nas aprendizagens, o que está sendo sentido no pós-pandemia.
O impacto causado pela pandemia
O Brasil foi um dos países que ficou mais tempo sem aulas e isso impactou bastante na qualidade e no tempo para garantir a aprendizagem dos estudantes, o que está sendo sentido neste pós-pandemia.
Pesquisas feitas pelo Estado de São Paulo mostraram que, apesar dos esforços para recuperar as aprendizagens durante o período de pandemia, ainda houve a questão de que pelo menos 20% dos estudantes de todo o Brasil não tiveram contato com as atividades do ensino remoto e cerca de 45% dos professores relataram que poucos alunos da rede pública acompanharam as atividades à distância, isso aliado ao fato de que a cada 10 alunos, 4 não teriam, segundo os próprios familiares, equipamentos e condições de acesso adequados para o contexto da educação não presencial.
Pós-pandemia: recomposição de aprendizagem
Portanto, o processo de recomposição de aprendizagens no pós-pandemia não se trata de recuperar aquilo que não foi corretamente aprendido; essa é uma questão emergencial que requer uma ação rápida para não apenas recuperar, mas também potencializar a aprendizagem dos estudantes. Nesse sentido, o primeiro passo é realizar uma avaliação diagnóstica do aprendizado para mapear as habilidades dos estudantes e identificar quais não podem deixar de ser construídas para não prejudicar o aprendizado do ano seguinte.
Os resultados do SAEB, como avaliação somativa das escolas, é um modo efetivo de “tirar a temperatura” de cada instituição e ajudá-las a identificar as áreas de maior necessidade de “tratamento” neste pós-pandemia. A partir desses dados e das necessidades para o ano seguinte, identificadas pela BNCC, os professores podem elaborar sua própria avaliação diagnóstica e planejar seu processo de recomposição de aprendizagem.
É importante lembrar que esse processo não é responsabilidade apenas dos professores ou da escola: é preciso uma coordenação do estado, do município e das diretorias de ensino. Esse apoio é essencial porque para que a recomposição aconteça da melhor maneira, importantes decisões devem ser tomadas: em qual período a recomposição vai acontecer, se será no contraturno das aulas, junto das aulas etc.
A recomposição de aprendizagem no pós-pandemia é uma necessidade única nesta geração, e assim deve ser tratada. Requer um esforço especial. No entanto, esse esforço vai nos preparar para um ensino mais eficaz e completo nos anos que virão.