Cinco mulheres brasileiras esquecidas pela história que merecem lugar nas salas de aula
A história brasileira é rica em figuras importantes de ambos sexos. Contudo, infelizmente, não temos o costume de abordar grandes nomes femininos de nossa história - o que é uma pena, vide a enorme contribuição que muitas mulheres tiveram na construção na cultura e sociedade do Brasil.
Por isso, no artigo de hoje, separamos cinco mulheres brasileiras que deveriam ser mais estudadas na escola, os motivos para essas escolhas e como você pode utilizá-las em sala de aula. Aproveitando, recentemente, publicamos uma matéria sobre a Semana da Cultura Nordestina e algumas dicas de como você pode trabalhar em aula. Para acessá-lo, basta clicar no link abaixo:
Maria Quitéria: a primeira militar brasileira
Figura heroica na Guerra da Independência do Brasil contra Portugal, Maria Quitéria de Jesus desafiou rígidas expectativas sociais da época, que limitava às mulheres apenas papéis domésticos. Com um forte desejo de lutar pela liberdade de sua terra, Quitéria, em um ato de ousadia e disfarce, cortou os cabelos, vestiu-se com roupas masculinas e se apresentou para o alistamento em 1822, ocultando sua identidade.
A determinação e habilidades militares da baiana logo foram notadas e, mesmo após sua identidade feminina ter sido descoberta, ela foi mantida nas forças armadas e se destacou em combate - tornando-se, assim, a primeira mulher a servir oficialmente em uma unidade militar no Brasil.
Por sua coragem e dedicação à causa da independência, foi promovida a alferes e condecorada com a Imperial Ordem do Cruzeiro pelo próprio Dom Pedro I. Maria Quitéria se tornou um símbolo de força, quebra de barreiras de gênero e patriotismo, sendo hoje reconhecida como uma das grandes heroínas nacionais do Brasil.
Maria Felipa de Oliveira: um dos símbolos esquecidos da independência do Brasil
Conterrânea de Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira também foi uma heroína da Guerra da Independência do Brasil na Bahia. Ela atuou ativamente nas lutas pela libertação do domínio português na Ilha de Itaparica, organizando e liderando um grupo de mulheres e homens que ficou conhecido como o “Batalhão das Heroínas".
A atuação de Maria Filipa foi crucial para a resistência em Itaparica e para a eventual expulsão dos portugueses da Bahia. Sua história, embora por muito tempo menos conhecida que a de outras heroínas, simboliza a participação fundamental de mulheres e da população negra e mestiça na construção da independência do Brasil.
Cora Coralina: prova que idade não deve ser um fator limitante
Pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, Cora Coralina foi uma das mais importantes poetisas e contistas brasileiras do século XX. Nascida em 1889, na cidade de Goiás–GO, a antiga capital do estado, ela teve uma vida marcada pela discrição e pela dedicação à doçaria, ofício que exerceu por muitos anos para sustentar sua família.
A vida literária de Cora Coralina só ganhou reconhecimento na velhice, quando publicou seu primeiro livro, "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais", em 1965, aos 76 anos. Cora faleceu em 1985, aos 95 anos, mas deixou um importante legado na literatura brasileira, sendo admirada por sua autenticidade e por demonstrar que a arte e o reconhecimento podem florescer em qualquer etapa da vida.
Zilda Arns: referência mundial na saúde infantil
Zilda Arns foi uma médica, pediatra e sanitarista brasileira. Seu trabalho é notável pela incansável dedicação à saúde pública e à redução da mortalidade infantil. Sua paixão por ajudar os mais vulneráveis a levou a fundar a Pastoral da Criança - uma iniciativa cujo objetivo era capacitar líderes comunitários a orientar famílias carentes sobre práticas de saúde básica e desenvolvimento infantil por meio de uma metodologia simples e eficaz.
Sob a liderança de Zilda, a Pastoral da Criança expandiu-se rapidamente, tornando-se uma das maiores e mais importantes organizações de combate à desnutrição e mortalidade infantil no mundo. O trabalho da Pastoral, baseado na solidariedade e na disseminação de conhecimento prático, resultou em uma significativa queda nas taxas de mortalidade infantil nas comunidades onde atuava, salvando milhões de vidas. Por sua dedicação e impacto social, Zilda Arns recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos nacionais e internacionais.
Clementina de Jesus: resgatou a identidade afro-brasileira
Conhecida carinhosamente como “Rainha Quelé”, Clementina de Jesus foi uma das maiores e mais autênticas vozes da música do Brasil, sendo um verdadeiro ícone tanto do samba, quanto da cultura afro-brasileira. Nascida em 1901 em Valença, Rio de Janeiro, Clementina teve uma vida de dedicação ao trabalho doméstico e só iniciou sua carreira artística profissionalmente aos 63 anos.
Ela revisitou sambas antigos, jongos, cânticos de candomblé e outros ritmos tradicionais que estavam à beira do esquecimento, preservando e difundindo um rico patrimônio cultural. Por isso, sua presença nos palcos e estúdios era um ato de resistência e celebração da identidade afro-brasileira.
Clementina também colaborou com grandes nomes da MPB, como Elton Medeiros e Candeia, e participou de importantes espetáculos e gravações que a consolidaram como uma figura essencial. Seu legado imaterial de valor é incalculável e continua a inspirar novas gerações de artistas a manter viva a memória e a força da cultura popular brasileira.
Por que a história dessas mulheres em sala de aula?
Trabalhar a história dessas mulheres em sala de aula é de suma importância por diversas razões. Primeiramente, essas figuras quebram o estereótipo de que a história é feita apenas por grandes homens, revelando o papel fundamental e muitas vezes invisibilizado das mulheres em diferentes épocas no Brasil.
Ao apresentar exemplos de coragem, liderança, criatividade e resistência feminina, os alunos – tanto meninos quanto meninas – são expostos a modelos inspiradores que contribuíram significativamente para a sociedade, independente das limitações sociais presentes no contexto de sua época.