IDEB e SAEB

Para avaliar a saúde de um organismo, temos que examiná-lo, e não basta medir a temperatura, é preciso avaliar diversos indicadores e compará-los com padrões pré-existentes, de modo a saber se o organismo está em processo de melhoria ou de piora. Para avaliar o organismo da educação no Brasil, foi preciso criar um índice que pudesse ser comparado periodicamente, de modo a se avaliar a eficácia das iniciativas já tomadas e quais ainda deveriam ser analisadas para futura aplicação. O indicador encontrado para isso é o Ideb.

Criado em 2007, ele serve para balizar o desempenho de todos os níveis escolares: escolas, municípios, estados e Nação. Mas quais são os exames que nos ajudam a medir a saúde do organismo educacional em todas essas instâncias? São na verdade duas “notas” que se somam para estimar esse resultado: a promoção dos alunos em cada contexto e as notas desses estudantes nas disciplinas de português e matemática.

IDEB e SAEB

Sigla de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb mede a qualidade do ensino nas escolas públicas e privadas do Brasil. Os dados de aprovação de alunos, obtidos pelo Censo Escolar, nos mostram se a escola está conseguindo que seus alunos sejam promovidos, ano a ano, o que reduz a evasão escolar e afere o sucesso da escola em seu principal objetivo: o avanço do estudante e a realização de seu potencial. No entanto, o resultado desse exame é ‘temperado’ pelo resultado de testes específicos de matemática e língua portuguesa, obtidos pelas provas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), dois indicadores que ajudam a comparar a proficiência de nossos alunos com as de estudantes de outros países. É com a ponderação dessas duas notas que conseguimos realmente entender a saúde de nossa educação.

E, por falar em saúde, estamos saindo da maior crise sanitária das últimas gerações, a pandemia de Covid 19. Além da perda de vidas, a pandemia desferiu um golpe pesado sobre a educação em todas as partes do mundo. Forçadas a se adaptar da noite para o dia à oferta de educação não presencial, as escolas tiveram de recorrer a diversos expedientes para manter seus alunos e ‘salvar’ etapas cruciais, como a de alfabetização. Apesar dos esforços, é claro que houve perdas acadêmicas, o que levou as escolas a reduzir a exigência para a aprovação, de modo que vimos nesse período de pandemia, 2020 e 2022, um aumento significativo na aprovação, um bom resultado infelizmente compensado pelas notas nos exames, em que os resultados foram díspares, mas com tendência de baixa.

Com os resultados do Ideb deste e de cada ano, e levando em conta a onda de choque da Covid, as escolas têm a oportunidade de avaliar e reavaliar suas metodologias e seu corpo docente. A pergunta a se fazer é: é possível obter resultados melhores usando os mesmos métodos? Essa é a avaliação exigida da direção da escola, de municípios, de estados e da Nação: quais políticas e metodologias serão esposadas nas políticas públicas e nos planejamentos político-pedagógicos?

Está a nossa frente um cenário em que a educação, pública e privada, precisa de alterações para realmente ajudar os estudantes a atingir seu potencial. Métodos antigos precisam ser mesclados com técnicas modernas, de modo a se buscar um ensino menos massificado e que acolha melhor as necessidades dos diferentes alunos, não somente pela necessidade de melhores políticas de inclusão, mas pela compreensão de que os processos que colocam o estudante como protagonista de seu aprendizado são mais eficazes.

Uma certeza que temos é que, ao se perguntar qual é o fator mais decisivo para o sucesso escolar, a resposta é sempre a mesma: o professor. É portanto ao professor que cabe entender como seus resultados podem melhorar, com a ajuda de seu material didático e formações que lhe deem segurança em sua atuação e fortaleçam sua mudança de atitude em relação a seus alunos: de detentor do conhecimento a um guia na construção do conhecimento pelo estudante.

IDEB e SAEB

Impactos da pandemia – SAEB

O Saeb 2021 guarda particularidades. A aplicação foi estruturada para manter a comparabilidade com as edições anteriores. Entretanto, o contexto educacional atípico imposto pela pandemia de covid-19, que, para além do período de suspensão das atividades de ensino, levou boa parte das escolas a adotarem novas mediações de ensino e a reverem seus currículos e critérios, teve reflexos na avaliação. Nas duas últimas edições do Censo Escolar (2020 e 2021), o Inep apurou dados sobre a “Resposta educacional à pandemia de covid-19 no Brasil”, com o objetivo de compreender as consequências da crise sanitária na educação.

Um formulário específico foi desenvolvido, com o intuito de coletar informações sobre a situação e as estratégias adotadas pelas escolas para o enfrentamento da pandemia. A pesquisa mostrou que 92% das escolas de educação básica, público-alvo do Saeb, adotaram estratégias de ensino remoto ou híbrido e 14,45% ajustaram a data de término do ano letivo. Além disso, nesse universo da educação básica, 72,3% das escolas recorreram à reorganização curricular para priorizar habilidades e conteúdos. Já o “continuum curricular” foi adotado por 17,2% das escolas. A estratégia implica a criação de uma espécie de ciclo para conciliar anos escolares subsequentes com a devida adequação do currículo. Dessa forma, as escolas teriam dois anos para cumprir os objetivos de aprendizagem.

Todas as medidas que visavam mitigar os impactos da crise global e que se alinhavam a recomendações do Conselho Nacional de Educação (CNE) e de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) à época. Mais especificamente, a Resolução CNE/CP n.º 2, de 10 de dezembro de 2020, também sugeriu que avaliações e exames de conclusão do ano letivo deveriam levar em conta os conteúdos curriculares efetivamente oferecidos aos estudantes pelas escolas, com revisão dos critérios adotados nos processos de avaliação. O objetivo é evitar o aumento da reprovação e do abandono escolar, que acabaria impondo uma nova penalidade aos estudantes para além da própria pandemia. Assim, a adoção do continuum curricular também teve por objetivo evitar a elevação da reprovação. Nesse cenário, o Saeb 2021 se traduz como subsídio para a elaboração e a implementação de políticas públicas que visem à melhoria do processo educacional, em particular, no cenário pós-pandemia.

Reflexos e consequências

Assim como os resultados do Saeb e do Censo Escolar foram impactados pelo cenário da crise do coronavírus, isso não foi diferente com Ideb. Nesse sentido, é necessário considerar o contexto nas análises. O cálculo do indicador de 2021 segue a mesma metodologia proposta em 2007 (utilizada de forma inalterada ao longo dos anos, com o objetivo de manter a comparabilidade do indicador). Entretanto, a pandemia é um fator imprescindível às interpretações, já que teve grande impacto nas atividades escolares em 2020 e 2021.

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